terça-feira, 24 de maio de 2016

As pessoas mudam ou melhoram?


A pergunta abre duas possibilidades de entendimento. Pode esconder a angústia diante do “outro” que não muda e o desejo que ele possa mudar, ou então pode refletir a angústia diante da sensação de que mudar a si mesmo é muito difícil.
No meu livro A psicanálise cura? traço um percurso ao longo dos desenvolvimentos da teoria psicanalítica em busca da resposta que a Psicanálise dá em relação à possibilidade de “cura” de quem procura o processo terapêutico da análise.
Os termos mudança, melhoramento, cura, remetem à esperança que o ser humano possa dominar seus demônios internos e introduzem a primeira questão: o “desejo” de cura. Qualquer mudança supõe uma necessidade interna e um desejo de mudança. Neste sentido, não é possível mudar o outro. Apenas podemos apostar na possibilidade de mudar algo em nós mesmos, desde que percebamos a necessidade de mudar.
Mas isso não é suficiente. Uma vez percebida a necessidade de mudar, é necessário responder à pergunta sobre “o que” precisa ser mudado. As tentativas de mudança podem ser frustradas pelo simples fato de que erramos o alvo. Frequentemente a forma como encaramos a mudança pode reforçar o problema, pois o que realmente está à raiz do incômodo geralmente não é percebido pela consciência. Neste caso, o processo terapêutico é fundamental.
A terceira questão é o “como” mudar. A “cura” dos problemas psíquicos não pode ser confundida com a cura no sentido médico. A cura da alma nunca corresponde a uma verdadeira erradicação do mal, como no caso da doença do corpo. Como sustentam alguns psicanalistas, a cura deve ser entendida mais como uma maturação (como a cura do queijo), que transforma, sem erradicar. As nossas feridas e falhas permanecem na psique e não podem ser erradicadas. Elas apenas podem ser integradas através de um processo de assimilação que nos permite lidar com elas de outra forma, tornando-nos conscientes do que está à raiz do problema e procurando domar o cavalo selvagem que é o nosso inconsciente.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O que é rejeitado ou reprimido pode se manifestar como doença.

O que é rejeitado ou reprimido pode se manifestar como doença, explica médico psicanalista argentino
Na visão de Luis Chiozza, o hipertenso, por exemplo, passou por situações de humilhação e indignação.
“O que surge primeiro: o raio ou o trovão? Um segue a velocidade da luz, outro, a do som. Mas, os dois fazem parte do mesmo fenômeno natural: a chuva. Com a doença acontece o mesmo e não se pode afirmar se o mal nasce primeiro na mente ou no corpo. Mas ambos estão juntos e fazem parte do mesmo processo”, afirmou o médico e psicanalista argentino Luiz Chiozza, em conferência realizada no dia 05 de abril (sábado), em São Paulo.
Chiozza apresentou a palestra Por que adoecemos? A história que se oculta no corpo, para uma plateia repleta de especialistas, terapeutas e profissionais de saúde. A conferência foi realizada no Instituto Sedes Sapientiae.O psicanalista argentino citou a hipertensão como exemplo para a tese psicossomática. De acordo com ele, a diferença entre o “ser” e o “estar” são muito importantes quando o paciente descobre a pressão alta. “Geralmente, o paciente está hipertenso por uma humilhação que passou na vida, isto é, a situação causou uma indignação e quando não é expressa, é reprimida, e transforma-se em doença”, advertiu ele.O mesmo ocorre praticamente com todas as doenças, entre elas, o câncer. Na visão do médico, há uma série de fatores psíquicos que interferem na evolução desta doença. “Há três tipos de pacientes com câncer: os que não aceitam e se revoltam; os que aceitam com resignação; e os que agem como se ele não existisse. Por incrível que pareça, os casos mais graves e mais difíceis de serem tratados são nas pessoas que continuam vivendo como se estivessem tranquilas”, salientou.Inquirido sobre as doenças em recém-nascidos e nas crianças, Chiozza defendeu que a vida fetal também conta com a psique, que os fetos pensam também e estabelecem uma relação íntima com a emoção dos pais.Sobre os distúrbios em animais domésticos, Luiz Chiozza foi bastante enfático. “Se o cão não pensasse, como poderia então encontrar o osso que deixou escondido? Os animais de estimação também pensam e refletem muito da emocionalidade dos seus donos”, alertou.O médico falou do aspecto psicossomático de diversos distúrbios, entre eles, a obesidade. “O obeso busca incessantemente o afeto, além de sentir-se frágil para a maioria das situações. E sentir-se frágil para enfrentar as situações da vida é mais importante do que buscar o afeto na comida”, revelou.

Biografia - Luis Chiozza nasceu em Buenos Aires em 1930. É sócio-fundador do Centro de Investigação em Psicanálise e Medicina Psicossomática, além de diretor do Centro Weizsacker de Consulta Médica e do Instituto de Docência e Investigação da Fundação Luis Chiozza para o estudo psicossomático do enfermo orgânico. Preside o Instituto di Ricerca Psicosomatica-Psicoanalitica Arminda Aberastury de Perugia, Itália. É autor de diversos livros sobre os significados inconscientes dos transtornos orgânicos e sobre a Psicossomática Psicanalítica, publicados em países como Argentina, Espanha, Itália, Brasil e Estados Unidos.